"Liberdade, liberdade! Abra as asas sobre nós!
E que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz!"
Já que esse blog é meu, eu vou postar sobre o que eu quiser! hehehe e
agora eu quero postar sobre novela! Sim, novela! Estou acompanhando desde o
início Lado a Lado, a novela das 6 da Globo. Não, não vou ficar bancando uma de
“pseudo-cult” dizendo que não gosto de novelas, eu gosto, bom, essa pela menos
eu adorei e babo ovos! rs
E agora já dá uma dózinha, pois LaL termina nessa sexta, 08/03/13. Escuto
o “lerere lerere PA lerere lerere PA” entre os blocos e já começa a dar
saudades.
Não tenho vergonha de dizer que virei noveleira com Lado a Lado, a
trama é interessante, inteligente, um elenco excelente, ótima ambientação, fotografia,
cenários, figurinos... É algo raro ultimamente da Rede Globo que me dá vontade
de assistir! Diferente de várias outras produções e novelas mais
“contemporâneas”, em que só tem apelação, propagandas, diálogos vergonhosos,
humilhação das mulheres, toda aquela história de alienação...
Fazia muito tempo que não curtia uma novela assim, e sempre preferi
mesmo as novelas das 6, por serem mais “leves” e por se aterem mais ao
conteúdo, como Cravo e a Rosa (adorava!!) e Coração de Estudante. Das “8” adorava
também Duas Caras (saudades Ferraço! rs) e Belíssima! Ultimamente só tinha
gostado de Avenida Brasil, mas não acompanhei tudo, chegou uma hora que não
aguentava a demora da Rita em se vigar, também gostei de A Vida da Gente, mas
ainda não terminei de ver tudo, tô na parte em que Rodrigo e Ana traem a Manu,
aí fiquei com raiva e parei de ver por um tempo. (kkkk)
PS: caramba, estou querendo postar sobre LL há meses, mas aí sempre
decidia comentar mais um tópico, colocar um parágrafo a mais e nunca publicava,
e agora o negócio ficou grande! rs
Rua Ouvidor, principal “ponto de encontro” da novela, onde se encontrava o Bar Guimarães, Confeitaria Colonial, Jornal Correio da República, Teatro Alheira,... |
Bom, Lado a Lado é uma trama de época, escrita pela dupla de autores João
Ximenes Braga e Claudia Lage (com supervisão de Gilberto Braga), e com direção
geral de Vinicius Coimbra, muito bem estrutura e atrativa. Se passa no Rio de
Janeiro de 1904 (primeira fase) e em 1910 (segunda fase), e trata da busca pela liberdade, justiça, igualdade, com excelente apanhado
da cultura negra e busca das mulheres pelo seu espaço numa sociedade machista, com
ganchos para importantes fatos históricos do Brasil, como o fim da escravidão,
início da república, Revolta da Vacina, Revolta das Chibatas,.. mostrando a
chegada dos automóveis, luz elétrica, cinematógrafo,... e também, citando
importantes fatos da construção da cidade maravilhosa, a modernização, a
tentativa de transformar Rio na Paris “tropical”. Não me lembro de qualquer
outra novela de época evidenciar tanto como Lado a Lado o período histórico em
que se passa como pano de fundo na trama, geralmente em outras produções era só
evidenciado o ano, o figurino, cenário e diálogos. Ah Lado a Lado também contou
com excelentes personagens, e casais, principalmente Laura e Edgar, bom, sobre
esses tópicos falarei mais pra frente, Laured merece mensão honrosa, claro. *_*
O elenco, ahhh, O Elenco é de sonho até mesmo para uma novela das 9.
Ao invés de 1 casal protagonista, são dois! De um lado, Marjorie Estiano e
Thiago Fragoso, do outro, Camila Pitanga e Lázaro Ramos, ou seja, já deu pra
ver o nível da trama!
A direção de núcleo ficou a cargo de Denis Carvalho e o elenco todo
pareceu ser dedicado, entraram de cabeça mesmo na novela, também, como nomes
como esses, era o que dava para esperar: Patrícia Pillar, Rafael Cardoso, Caio
Blat, Milton Gonçalves, Isabela Garcia, Sheron Menezzes, Bia Seidl, Zezeh
Barbosa, Alessandra Negrini, Débora Duarte, Christiana Guinle, Cassio Gabus
Mendes, Werner Schünemann, Maria Padilha, Paulo Betti,... pra citar alguns.
É interessante ver o momento do Brasil pós escravidão que raramente é
falado, o que aconteceu com os escravos, como os negros ainda sofriam com o
preconceito (triste é que ainda sofrem, mesmo 100 anos depois do período da
novela), a habitação dos cortiços e depois o bota-baixo da prefeitura do Rio
para “embelezar” a cidade, em que fez com que os morros começassem a ser habitados,
na novela mais precisamente o Morro da Providência, mostrando o surgimento das favelas cariocas.
Madá e Isabel sambam no Morro da Providência |
A importância do samba para a cultura negra também é muito bem
retratada na trama, através de uma das protagonistas, Isabel (Camila Pitanga),
que sempre dançou o batuque dos negros, e depois de ver uma chance de mudar de
vida, vai para Paris, vira dançarina e faz o samba genuinamente brasileiro
ganhar fama lá fora, mas quando volta para o Rio e apresenta seu espetáculo,
ainda sofre preconceito, mas mesmo assim, mostra a importância da dança da
cultura negra e brasileira.
PS: Achei linda linda a cena do espetáculo da Isabel, as cores, a
suavidade, a música, a dança: [ Vídeo da cena ].
É até irônico ver que naquela época isso era considerado imoral,
vulgar e contra os bons costumes, visto o que temos hoje em dia...
A chegada do futebol (foot-ball rs) ao Brasil também é mostrada, que antes
era apenas esporte da elite. Algumas frases dos personagens “Se esse football
cair no gosto dos homens, as mulheres vão sofrer um bocado”, “ganhar dinheiro
jogando futebol, nunca...”, “onde já se viu negro e pobre jogando futebol”,
pois é... também foi retratado na novela o famoso caso de Alberto Carlos no
Fluminense em 1914, negro, que jogou futebol pintado de pó de arroz, na novela
isso foi vivido pelo personagem Chico (César Mello), que tinha um talento nato
e trouxe o jingado da capoeira ao futebol.
Neto: "O futebol não é mais que um passatempo de jovens ociosos e
desprovidos de inteligência querendo se passar por civilizados"
A capoeira que chegou ao Brasil pelos negros africanos, também foi
muito valorizada na trama, mas naquela época, quem jogava capoeira era associado
a vadiagem e criminoso. As cenas de jogos e lutas de capoeira foram muito bem
feitas, elenco (nessa parte em especial Lázaro Ramos, César Mello e Marcello
Melo Jr., ahh, e as crianças do morro) e produção afiados! Essa sequência mostra
bem o capricho da equipe em cenas de capoeira, aqui nesse caso, quando os
capoeiras se juntam no morro para que Tia Jurema não fosse presa [ Vídeo da cena ].
Tentaram prender a Tia Jurema (Zezeh Barbosa) com a desculpa que ela estava ligada a
bruxaria, ou seja, foi retratado mais um preconceito que os negros sofriam, já
que Tia Jurema apenas jogava búzios e era adepta ao candomblé.
Laura: "... A tia Jurema viu nos búzios pra
Isabel... ah, esquece."
Constância: "búzios? Do que você está
falando Laura? Ah, é bruxaria de escravos!"
Laura: "Religião!"
Constância: "É macumba de preto."
Pela primeira vez numa novela o tema de abertura foi um samba enredo, e nada mais justo que fosse em Lado a Lado: “Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós” da Imperatriz Leopoldinense no carnaval de 1989, um samba lindo, que fez a Imperatriz vencer o carnaval daquele ano, no desempate pelo samba-enredo. A letra tem tudo a ver com a trama, se tivesse sido escrito propriamente para a novela, não cairia tão bem. A letra refere-se ao centenário da proclamação da República, celebrado em 1989, e como diz no título, trata da liberdade que os personagens tanto buscam na história.
O samba tinha a voz de Dominguinhos do Estácio, e é uma composição de
Niltinho Tristeza, Preto Jóia, Vicentinho e Jurandir.
O vídeo de abertura também ficou excelente, mostrando o que seria retratado na novela > [ Vídeo da Abertura ], sem falar que era ótimo quando dava uma tensão em alguma cena e surgia o "liberdade, liberdade" da abertura.
O site da novela postou essa semana esse vídeo com imagens da novela
ao som do samba, adorei, mas ainda poderia ser mais longo neh?! [ Vídeo ]
A trilha sonora é recheada com grandes nomes da música brasileira!
Achei bacana e acertado colocar músicas atuais, contemporâneas numa novela de
época, deu um ritmo diferente pra história, mais moderno, até mesmo porque os
próprios personagens buscavam a modernidade. A trilha tem músicas que vão do
samba ao rock, pop, MPB,... passa por delícias como A flor e o Espinho de Sururu
na Roda (♫ “Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor” ♫), Isto
é bom de Marlene de Castro e a sequência O Orvalho Vem Caindo / Fita Amarela /
Até Amanhã /
Palpite Infeliz com Gal Costa.
Nunca tive nada contra samba e MBP, eu simplesmente só escutava uma ou
outra coisinha por aí, mas não era de ir atrás desses estilos por preguiça
mesmo, mas sempre quando ouvia gostava. E essa trilha sonora me voltou a abrir
os ouvidos para a música genuinamente brasileira, ouvir um bom samba de raiz,
MPB, essas preciosidades todas que a música brasileira tem.
O que falar da geniosidade das palavras de Cartola na música O Mundo é
um Moinho? Aqui na trilha lindamente cantada por Beth Carvalho, a música
representa tudo o que a personagem da Camila Pitanga, Isabel, passa com seu
pai, Afonso (Milton Gonçalves).
Sempre gostei de Nando Reis, não tanto, mas escutava um pouco, foi só
ouvir Sei nas cenas de Laura e Edgar que eu passei a amar a música e ouvir bem
mais os outros discos dele. Isso aconteceu até com Los Hermanos, (hauahaua,
sério gente, Los Hermanoszzz), acho De Onde Vem a Calma tão perfeita para o
personagem Albertinho (Rafael Cardoso), de uma maneira simples e doce representa tudo o que ele
é “Olha esse sorriso tão indeciso, tá se
exibindo pra solidão”.
Aí vem alguma cena no morro ou com os personagens Chico e/ou Zé Maria
ao som de a Voz do Morro naquela voz forte de Diogo Nogueira.
E quando toca Inferno da Nação Zumbi aí tu já pensa “ferrou”, alguém
vai fazer alguma sacanagem com alguém, seja Berenice, Caniço, Constância... “O
inferno nem é tão longe, eu sei”.
Ainda teve as cenas de futebol embaladas por Samba de Primeira do
Marcelo D2, Namora Comigo de Mart'nália com participação de Djavan para as
cenas de Zé Maria e Isabel, Me Deixa Em Paz de Milton Nascimento com Alaíde
Costa, Grande Amor de Marinho da Vila, Olhos Castanhos de Daniel Peixoto com
participação de George M. ... e a ótima e melancólica Quarto de Dormir do
Marcelo Jeneci para as cenas do amor proibido entre Alice e Jonas.
Só não acho justo o casal Guerra e Celinha ter ficado com a música Para Uso Exclusivo da Casa de Dhi Ribeiro, já que a música elogia muito o
homem em questão e o Guerra caiu um pouco no me conceito quando não quis
publicar as matérias de Laura no jornal.
O site da novela postou clipes de algumas dessas músicas com imagens da novela, curti o resultado > http://especiaiss3.tvg.globo.com/novelas/lado-a-lado/cinematographo/
Além da trilha mais “moderna”, os diálogos também eram mais “modernos”,
contemporâneos, outro ponto que também achei acertado, arriscado sim, mas com
um resultado bem melhor. Imagina, se tivesse que ficar ouvindo aqueles termos
todos formais, até mesmo porque a trama buscava liberdade, os personagens
principais sempre tentavam ser a frente do seu tempo. Tinha algumas palavras e
termos que não existiam em 1904 e 1910, mas no geral, achei que ficou um
resultado ótimo.
É uma pena a “baixa” audiência que a trama veio recebendo, atribuo isso ao horário da trama e por ter iniciado na época da propaganda eleitoral, já que a novela começava mais cedo, e por se tratar de uma novela das 18hrs, horário de “trânsito” rs. Eu mesmo, foram poucos os capítulos que assisti na integra “ao vivo”, sempre quando chegava em casa depois do trabalho conseguia pegar só um ou dois blocos, aí tinha que ver online mesmo.
Bom, com toda essa questão de ambientação, fatos históricos,
modernização do Rio de Janeiro, futebol, a história dos personagens não poderia
ficar sem também ser excelente.
A história da novela gira em torno das protagonistas Laura (Marjorie
Estiano) e Isabel (Camila Pitanga), que se conhecem na igreja no dia dos seus
casamentos, uma é de família nobre, filha de ex-barões do café, que é
pressionada pela mãe para se casar com Edgar (Thiago Fragoso) para manter a
família em boas condições, já que com o fim da escravidão a família começou a
perder tudo, e estava casando contra a sua vontade, a outra noiva, Isabel, era
filha de ex-escravos, trabalhava desde cedo e, por ironia do destino, a que não
queria se casar acaba se casando e a que queria não, e nesse momento surge uma
grande amizade.
Apesar das diferenças sociais, elas tem traços de personalidades
semelhantes, o que aproximou ainda mais as duas. Mocinhas protagonistas?
Mocinhas é um termo meio fraco pra elas, são batalhadoras, com vontade desafiar
a sociedade, lutar por justiça, direitos, ideais, ou seja, mulheres a frente do
seu tempo.
As histórias das duas sempre ocorreram lado a lado (daãã), e uma
sempre esteve presente na vida da outra. Laura descobriu que Isabel estava
grávida do seu irmão, Albertinho (Rafael Cardoso), ela apoiou, deu abrigo a
Isabel quando ela mais precisava, quando seu pai a expulsou de casa, quando
Isabel acreditou que seu filho tinha morrido, Isabel esteve junto a Laura
quando ela engravidou, mas acabou sofrendo aborto espontâneo...
Elas ficam 6 anos separadas, Laura no interior e Isabel em Paris, mas
sempre se comunicando por cartas, e quando voltam a se reencontrar no Rio de
Janeiro, vão morar na casa de Isabel, que voltou a cara da riqueza da França, e
Laura passou a ser apenas uma simples moça trabalhadora após o divórcio. Sempre
assim, com cumplicidade, trocando confidências, se apoiando, uma torcendo pra
Isabel se acertar com Zé Maria (Lázaro Ramos) e a outra pra que Laura ser
acertasse com Edgar.
MAAAS, eis que nos últimos capítulos, peidam na farinha (hehehe) com
essa amizade, e Isabel acaba com a amizade com Laura, já que Laura levou o
filho de Isabel (que na verdade sempre esteve vivo) para a casa de Constância
(Patricia Pillar), a avó que tinha roubado a criança para escondê-la, já que o
menino nasceu moreninho e imagina uma baronesa avó de um mulatinho neh?! Só que
Laura foi enganada por Albertinho e Constância para fazer isso, e Isabel não
quis nem ouvir... cuspindo no prato que comeu?! Sem falar nas patadas que a
Isabel vinha dando na Laura desde que descobriu que seu filho estava vivo, e meio
que descontando na Laura o que não podia descontar na Constância, mãezinha de
Laura, tudo bem, o filho dela foi roubado, passou 6 anos acreditando que o
filho tava morto, mas precisa descontar em quem sempre esteve ao seu lado?! Não
curti isso, autores. rs
Gif roubado de algum tumblr |
E nessa história toda, rola um inquérito de Isabel contra Constância,
e quando Laura descobre que é a prova de Isabel contra Constância no caso do
roubo do filho, ela nem cogita em não ir contra a sua mãe, pra favorecer a
justiça, e Isabel! E enquanto isso Isabel fica de mimimi contra Laura. Fiquei
revoltada com isso.rs
Claro, que no final da trama elas voltam a se acertar, até tava querendo que a Laura fosse mais fria com Isabel por um tempo. rs
Mas mesmo assim, foi uma amizade linda, Marjorie e Camila, são duas
das grandes atrizes do Brasil, e convenceram como amigas, tem química, deram
certo, passam verecidade nas cenas, fizeram muita gente pegar os lencinhos, e é
até dificil decidir uma cena que mostre isso de tantas, então fico com 3, duas da
primeira fase da novela ainda:
- Quando elas se conhecem na igreja no dia do
casamento, ainda com a jovialidade, inocência das duas > [ Vídeo da cena ], e quando a Laura acaba descobrindo que o pai do filho de Isabel é o
seu irmão, ou seja, vai ser titia oficial do filho da amiga [ Vídeo da cena ].
E uma das últimas cenas das duas, a reconciliação, depois que Laura
volta do sanatório > [ Vídeo da cena ].
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